Filhos da Bahia estreia nesta sexta e lançará EP com músicas inéditas em 2022
por Bianca Andrade

Já dizia o ditado: filho de peixe, peixinho é. É claro que há exceções que fogem à regra, mas neste caso, além da semelhança física, o trio formado por Miguel Freitas, Zaia e João Lucas carrega a musicalidade de seus respectivos pais, Carlinhos Brown, Reinaldo Nascimento e Saulo Fernandes, em um projeto que vem para homenagear e reverenciar a Axé Music, os Filhos da Bahia.
O trio fará sua grande estreia na sexta-feira (22) e promete entrar no clima e liberar geral, com vira e mexe a noite inteira em um show no restaurante Dendê, na Área Verde do Othon, em Ondina, já no circuito da folia.
"Nós temos muito respeito e pensamos muito sobre qual é a expectativa das pessoas com o nosso projeto. Queremos fazer com que as pessoas saiam de lá com o sentimento bom. A gente está esperando o abraço do público", conta Zaia, que é advetido por Miguel: "Mas com cuidado, hein? (risos)".
O abraço ao qual o cantor se refere é o acolhimento do público ao novo, como cantado por Saulo Fernandes em 'Como Um Abraço'. Uma adoção à ideia do trio, que quer adicionar em sua certidão artística o nome de outros pais, os dos fãs.
Incentivados e apoiados pelos pais, que já pediram para participar do projeto colaborando com composições e até aparições em shows, a banda espera impactar o público a ponto de querer mais até 2022, quando sairá o primeiro trabalho autoral. Parafraseando Brown em 'Você, O Amor e Eu', quem de nós vai segurar os três?
Confira a entrevista na integra:
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
Como surgiu o projeto Filhos da Bahia?
Zaia: Desde criança eu e João somos amigos. A gente saía, fazia um som, e no ano passado a gente fez um vídeo que ficou muito legal e a galera curtiu. Aí eu cheguei para ele e falei 'Vamo fazer um som mesmo, um projeto?'. Passou um tempo, a gente ficou amadurecendo a ideia e eu achei que precisava de mais alguém. Eu não conhecia o Miguel pessoalmente, mas já conhecia o trabalho, e João propôs juntar os três. Agora viramos irmãos.
Qual foi a reação dos pais quando vocês anunciaram o projeto?
Miguel: Meu pai sempre apoia meus projetos musicais e sempre me adverte, né, dá os conselhos como meu pai mesmo e como mais velho na área. Ele gosta muito dos meninos, dos pais dos meninos. Tô com uma galera boa.
João Lucas: Ele se amarrou no projeto. Lógico que como pai ele pediu para tomar cuidado e depois perguntou 'Com quem?', quando eu falei que tava com Zaia e com Miguel ele já falou 'Ah, então tá tudo certo' (risos). Ele ama esses dois caras e já tá colado, mandando música para a gente gravar junto.
Zaia: Meu pai já veio de um projeto parecido, que foi o Axé 90º, então quando ele soube que eu estava com essa ideia ele me aconselhou, disse que a experiência dele foi incrível e que se a gente tivesse metade da que foi a dele e agregasse tanto para a minha história, seria sensacional.
A carreira na música sempre foi algo que vocês almejaram?
João Lucas: Eu passei por algumas áreas, joguei bola, gravei uma série da Disney (Juacas), mas desde pequeno eu estou com meu pai em todos os Carnaval, faço umas músicas que eu gosto, uns pagodes e acompanhando meu pai na estrada desde sempre. Música é uma coisa que eu amo, me deixa feliz.
Zaia: Eu sempre soube que ia fazer alguma coisa na música. Uma vez eu falei para mim 'Isso é muito difícil, vou desistir', mas durou 30 dias só (risos). Mas desde criança eu sempre soube que ia estar na música.
Miguel: Ganhei minha primeira bateria com 3 anos, aí não teve jeito. Eu na verdade, quando era pequeno, queria ser motorista de ônibus (risos), mas sempre colei nos shows de meu pai e com 16 anos comecei a viajar com banda.
Em algum momento vocês chegaram a se incomodar ou se preocupar com a forte associação aos seus pais?
Miguel: Uma hora você acaba aceitando. Realmente parece para caramba. Você olha para João e vê Saulo, às vezes dá raiva (risos). 'Pô, véi, você é a cara dele'. Zaia nem se fala, cantando é a mesma coisa que o pai. A galera comenta, mas é uma coisa natural. Acredito que o importante é não esquecer quem somos de verdade, nossa individualidade e fazer o nosso.
O que vocês trazem de "herança" dos seus pais para os Filhos da Bahia?
Miguel: É a referência de quem começou. Esperamos continuar abrindo os caminhos, como eles fizeram.
Zaia: Do meu pai eu trago a influência do samba de roda. Ele foi um dos exportadores do samba junino. Ele também é um dos caras que surgiu junto com grandes cantores do samba reggae, como Tatau, Ninha. Ele vem da escola que Brown criou e foi um dos grandes intérpretes da época.
João Lucas: Eu me inspiro tanto nele, são tantas coisas boas para pegar e puxar. Acho que trago mais a onda da leveza, paz e amor, da energia boa e de deixar tudo bem e axé valendo.
Como foi a montagem do repertório para as apresentações ao vivo e qual música não pôde ficar de fora?
Zaia: É muito difícil falar uma música. A gente inclusive teve uma certa dificuldade dificuldade para desenvolver nosso repertório, porque se a gente for falar só de nossos pais já fica difícil, quando fala da música baiana, a complexidade é exponencial. Tem muita coisa para a gente explorar.
Miguel: A gente reverencia. Tem clássicos da Axé Music, por exemplo, do nosso poeta Moraes Moreira, que não podiam ficar de fora. Tem composições de Saulo, de meu pai, de Reinaldo. Vamos procurar tocar o Axé como um todo, não só as músicas dos nossos pais, mas o movimento inteiro.
O público pode esperar algo autoral dos Filhos da Bahia, para além da homenagem ao Axé?
João Lucas: Nosso primeiro objetivo é fazer uma releitura dos clássicos e a segunda parte, depois do Carnaval, já vamos começar a mexer nas gavetas para fazer algo nosso. O bom é que em cada show terá uma novidade.
Zaia: A gente já tem composições, Saulo mandou algumas músicas, Carlinhos também, meu pai está bem participativo. A gente tem muitas canções, estamos no processo de terminar de garimpar e depois fazer a seleção. Não queremos fazer com pressa, porque sabemos que podemos fazer algo bom. Então estamos na escola do nosso Saulinho, sem pressa (risos).
Miguel: Tá em processo de maturação, é quase uma maniçoba (risos).
A banda Filhos da Bahia chega em um momento em que muito se fala sobre uma possível crise ou queda da Axé Music. Como vocês enxergam essa teoria? Qual o rumo que vocês percebem que o movimento está tomando?
Zaia: Existe há alguns anos essa história. É complicado. O Carnaval é um dos únicos eventos que fatura mais de R$ 300 milhões em uma semana, é um número extraordinário. A indústria do Axé tem figuras expostas na televisão quase o ano inteiro, a gente sempre está vinculado a algum outro segmento musical, com células rítmicas e compositores. O que não dá para fazer, e nem a gente gostaria também, é que fosse só a gente como dono da bola. A bola agora está na mão de outra pessoa, outros artistas estão em evidência, mas a gente tem o nosso público, os shows de axé lotam por onde passam. Meu pai vive bem com o que conquistou do axé, Saulo e Brown também. Somos um movimento musical que dura mais de quarenta anos, não existe isso em outro lugar.
Miguel: Muitas outras coisas boas surgiram da Axé Music. O Axé é um movimento, nós temos agora o pagode, que faz parte da música baiana, o pagotrap. Temos a galera do ATTOOXXA, Sistema Pagotrap, Baiana, uma galera que vai representar o que é a música baiana, mais um tentáculo da Axé Music.
João Lucas: É a cena alternativa saindo para as ruas.
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