Raoni quer 'TVE Revista' com mais 'gente preta, LGBT+ e mulheres potencializadas'
por Júnior Moreira Bordalo

Nascido e criado no miolo de Salvador, mais precisamente em Brotas, Raoni Oliveira viu sua paixão de infância virar profissão. Inspirado pelo pai, Raimundo Rui, que também era locutor, formou-se em comunicação e com 10 anos de experiência na área já atuou como produtor, promotor, social media, locutor de rua e até designer da Globo FM, Bahia FM, Bahia FM Sul e CBN FM. Ele também fez a coordenadoria de marketing e locução do programa “Buxixo” da Piatã FM, foi professor de marketing no curso técnico de Rádio e TV do ETEBA e há três anos estava como repórter da TV Aratu, afiliada do SBT. Porém, desde o início de 2020 viu seu nome chegar a um novo patamar ao seu anunciado como o novo apresentador do programa “TVE Revista”, da TVE, no lugar de Rita Batista, uma das jornalistas mais populares da Bahia (relembre aqui).
“Quando Rita saiu, nem passou pela minha cabeça que seria cotado. Inclusive, pelo que o mercado comenta, outros apresentadores estavam na mira para essa vaga. Embora trabalhe com TV apresentando, era mais aquele que tirava a folga. Porém, nunca tinha me imaginado no ‘TVE Revista’. Pelo menos, não por agora”, iniciou em entrevista ao Bahia Notícias. Defensor de uma comunicação mais democrática, ele assumiu o cargo há pouco mais de uma semana e já vem tentando colocar sua identidade na atração diária. "Se depender de mim vai ter gente preta; a comunidade LGBT; mulheres potencializadas para falar sobre feminismo, já que é não meu lugar de fala...”, detalhou. Confira a entrevista completa:
Raoni, você está no comando do “TVE Revista”. Primeiro, como foi essa sondagem e convite?
Tudo partiu de uma forma muito rápida por conta da demissão de Rita (Batista) e, pela chegada do Carnaval, houve a necessidade de procurar um nome que atendesse sobretudo aos requisitos deixados por Rita, acredito, em relação ao perfil, imagem, representatividade. Pelo que conversaram comigo, queriam alguém que também se comunicasse com o público mais jovem e que tivesse acessibilidade fácil com as plataformas digitais. O convite partiu da própria coordenação de jornalismo, tivemos algumas reuniões para discutir o projeto, a cara que esse novo “TVE Revista” teria. Foi rápido. O papo comigo aconteceu no finalzinho de janeiro. Foram duas semanas de negociações e fechamos.
Depois, já tinha se imaginado alguma vez nesse lugar?
Não. Quando Rita saiu, nem passou pela minha cabeça que seria cotado. Inclusive, pelo que o mercado comenta, outros apresentadores estavam na mira para essa vaga. Embora trabalhe com TV apresentando, era mais aquele que tirava a folga. Porém, nunca tinha me imaginado no “TVE Revista”. Pelo menos, não por agora. Porém, o convite me deixou muito feliz. Primeiro por saber que estou sendo notado, né? Por mais que não desse certo, é gratificante saber que tem gente que gosta do meu trabalho, que está me acompanhando, que me enxergam em uma vaga que não era meu dia a dia. De certa forma, nunca tinha me visto tão cedo em uma vaga de apresentador... estou partindo para o terceiro ano de televisão, acho-me extremamente novo nessa área.
Ao sair, Rita disse que a decisão partiu por um choque de ideologias. Você conversou com ela? Isso é algo que te preocupa?
Sou apaixonado por Rita. Ela é sensacional. Conversei antes de aceitar para entender o que estava acontecendo. Parte do conflito dela tinha relação com o lado editorial e pelo que entendi terei mais liberdade para conversar sobre isso. A gente vai incrementando coisas com o passar do tempo. Existe a necessidade de adequar o programa ao meu perfil. Porém, ela me deu a benção, dizendo que é um cenário diferente para mim.
Quem é o Raoni que está surgindo na TVE e o que ele quer oferecer?
Pergunta de RH isso aí (risos). Converso com meus amigos que a ficha ainda não caiu, mas o Raoni que está indo é aquele que entende que tudo que já fez na comunicação ao longo de sua vida serviu de legado, aprendizado e experiência, mas que agora um novo profissional precisa ser lapidado para ocupar esta vaga. Tem uma responsabilidade muito grande em cima de mim. Sei disso. Tem uma galera que está acreditando, depositando muitas expectativas e quero honrá-las. Estou levando com muita leveza, acredito na comunicação democrática, simples e criativa. A comunicação precisa chegar a todos os cantos. O público da classe A e da classe E precisam entender o que estamos falando. Não podemos transformar o jornalismo em um processo elitista. Óbvio que existem nichos, vários tipos de categorias, mas de forma geral todos precisam entender a comunicação.
A abordagem da TVE é diferente da que vinha executando na TV Aratu nos últimos anos. Como está se preparando?
TV pública é diferente. É outro tipo de abordagem. Mas terei liberdade para ser quem eu sou. Óbvio que vou ter que reposicionar algumas posturas, o apresentador precisa passar uma credibilidade, que é conquistada, não imposta. Uma das minhas qualidades – falando de uma forma que não pareça arrogante – é a minha relação com as pessoas. Gosto muito de gente e de contar histórias, sobretudo das que precisam ter as histórias contadas. Muitas são invisíveis e me sinto responsável por leva-las para uma potência maior.
Você sai de uma TV que briga na casa decimais por audiência para outra que não tem essa pressão. Onde exatamente isso muda no seu trabalho?
A vantagem é que a TVE é a mais democrática da televisão baiana. Ela mostra tudo. A maior vantagem é essa liberdade; tem pautas baseadas na diversidade. Se depender de mim vai ter gente preta; a comunidade LGBT; mulheres potencializadas para falar sobre feminismo, já que é não meu lugar de fala. Abrir o espaço sem quem o tempo seja muito curto, pois a TV comercial é mais rápida. Além disso, a ideologia da própria TVE pode ser o melhor ponto para isso.
Ao deixar a TV Aratu, você recebeu uma homenagem de toda a empresa no ao vivo. Esperava? O que a TV Aratu significa para você?
Foi surreal. Todo mundo que comentou sobre isso falou: “Nunca vi isso na TV”. Estou saindo para outra emissora, apresentar um programa no mesmo horário que estava alocado, e ainda sim perderam 20 minutos para me homenagear. Não esperava de forma alguma. É uma relação que nunca tinha visto. A TV Aratu é um divisor de água, pois me fez acreditar ser um profissional que me questionei se seria capaz. Acho que tem um pouco do racismo estrutural que faz a gente acreditar que não devemos ocupar determinados espaços, principalmente de protagonista; o racismo faz a gente sempre questionar se estamos preparados para postos de destaques. Porém, a Aratu me deu esse espaço. Fiz tudo lá. Fui locutor, mestre de cerimônia, produtor, apresentador, repórter. A TV Aratu tem um papel fundamental na minha vida. E sair de portas abertas é muito mágico. Chorei bastante.
A gente sempre ouve falar da competitividade nos bastidores da TV. Como é isso na Aratu?
Acho que ego todo mundo tem. Hipocrisia dizer que não. Vários jornalistas sonham em ocupar a vaga do “Jornal Nacional”, mas só existem duas, né? Acredito que sua postura e como você se comporta diz muito como vai ser sua trajetória. Óbvio que existe competitividade, acho saudável. Quando você repensa sua carreira a partir de perceber o que o outro está fazendo de bom, sem perder sua personalidade, é positivo. Temos que ter profissionais como referência. Na Aratu existe a competitividade, mas é muito saudável e leal. E quem não vai por essa linha é bastante criticado. Acredito que a forma que nos relacionamos lá é muito corporativista. Conquistei espaços, não tomei espaços. Esses lugares foram oferecidos com base nas relações com as pessoas e com o meu trabalho. Não foi pensado “em como tirar isso das pessoas”.
Até onde sei, Dinho Júnior (locutor da Piatã e repórter da TV Aratu) era um grande parceiro seu e foi facilitador da sua ida para a Aratu. Vocês se afastaram com o tempo. O que houve?
A gente sempre se ajudou muito. Ficamos próximos há uns 10 anos e boa parte da relação começou na Rede Bahia. Tivemos programa de rádio na Bahia FM. Uma vez ele foi sondado para a Piatã FM e eu disse: ‘Cara, quando você for sondado fale de mim. Diga que eu quero ir’. Ele foi e falou. Quando eu fui para lá, falei: ‘Agora que estou aqui, vou te trazer para cá’. Tinha esse compromisso, não só por gostar dele, mas por acreditar que a Piatã precisava de um profissional como o Dinho Júnior, um dos mais incríveis que trabalham aqui no mercado e com uma comunicação muito próxima do que acredito. Na relação com a Aratu, ele também foi um facilitador. Brincávamos que a gente tinha meio que uma troca. Darino (Sena) também. Porém, confesso que não sou a melhor pessoa para explicar, mas acho que tivemos um afastamento por choque de ideia... seguimos caminhos diferentes. Torço para que ele seja bem sucedido no que acredita. Acho que se Dinho faz um trabalho parecido com o que acredito, desejo que mais gente como ele apareça para que o movimento fique maior. A renovação faz parte do trabalho. A gente conversa, mantém contato, se respeita, falamos “oi, oi”. É isso. A vida não é muito como a gente quer, né? Ele está traçando o caminho dele. Talvez, tenhamos discordado em como cada um segue seu caminho, mas vibro com suas conquistas, de coração mesmo. Assim como ele deve ficar feliz, do jeito dele, com as minhas.
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