
No próximo domingo (17) milhões de estudantes brasileiros enfrentam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Aquele frio na barriga sobre o futuro, em 2021, terá outro sabor. O que estará em jogo não é apenas a entrada numa universidade, sonho para muitos. É o risco de ser contaminado pelo coronavírus, após muitos estarem sem aulas desde março do ano passado. A edição de 2020 da prova é, sem sombra de dúvidas, a mais assustadora de todas.
O Ministério da Educação (MEC) manteve a insensibilidade peculiar desde os tempos de Abraham Weintraub ao sequer discutir um novo adiamento da prova, mesmo com secretários estaduais de Educação e Saúde tentando barganhar uma nova data. Com a segunda onda do coronavírus - que engoliu a primeira frise-se -, o MEC opta por expor estudantes e também todos os envolvidos na organização da prova, ao invés de dialogar sobre possíveis soluções para estados e municípios que estiverem com uma curva acelerada de disseminação da Covid-19. É a opção pela possibilidade da morte, algo fúnebre, bem ao padrão que já acostumamos.
No Amazonas, onde a falta de oxigênio transformou leitos em câmaras de asfixia, foi necessária a intervenção judicial determinando a suspensão da realização da prova, após dirigentes do ministério indicarem que os gestores que optarem pelo cancelamento do exame terão que arcar com as consequências de não mais realizar o Enem 2020. Um posicionamento cômodo, que não consegue analisar uma crise sanitária que, precisamos repetir, não tem precedentes na história recente do mundo.
O próprio MEC fez uma concessão importante: o estudante que apresentar algum sintoma ou for diagnosticado com Covid-19 terá permissão para fazer a prova no final de fevereiro. Desde que confirmado com relatório médico. Porém o mesmo ministério garantiu que, em caso de suspensão da prova por parte de estados e municípios, essa mesma data não poderia ser utilizada, por conta da logística e do custo para produzir cadernos e contratar fiscais, dado o número muito grande de estudantes para a aplicação das provas.
É uma revisitação do duelo da União contra estados e municípios, a exemplo dos embates dos meses iniciais da pandemia sobre a reabertura das atividades econômicas. Só que, ao invés da economia, a bala na agulha da vez são milhões de estudantes, que dependem do Enem para ingressar numa universidade. Um boicote massivo ao exame pode não ser viável. Porém seria uma bela resposta de quem está no meio de uma briga a que não pertence. Pena que os estudantes reflitam a sociedade e a lógica da “farinha pouca, meu pirão primeiro”. É fazer a prova orando não apenas por uma boa pontuação, mas para que o colega ao lado não esteja com Covid-19.
Este texto integra o comentário desta sexta-feira (15) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.
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