
O SIM & OUTROS ACHAQUES
A vida inteira anulada
por falta de outros desígnios,
eis que voltamos ao parque
onde os homens se congregam:
ninguém jamais sabe ao certo
onde o sim das grandes aves,
singramos por mares mansos
que julgáramos esquecidos —
mas eis que a vida se perde
por falta de outros desígnios.
Ou não se perde: é só isto.
A BENÇÃO
As cartas de meu pai eram singelas.
Diziam só as coisas triviais:
Como vai, filho? Seus estudos vão bem?
Vamos em paz. Sua mãe manda lembranças.
A benção do
Seu Pai.
E, num p.s. — Seguem cem mil reis.
À sua morte, herdamos: três bengalas,
o relógio de bolso, uma agenda de notas
e um par de chinelos que nem foi usado.
Não importa.
Onde ele está soe se andar descalço.
DÍSTICOS
Há os silêncios ocultos
e o não ter o que dizer.
Há o vulto dos passados
e a consciência calhorda.
A corda para enforcar
sustém o sinos da igreja.
Não há consertar o mundo:
o mundo é um desconcerto.
Há as tuas e as minhas raivas
e os meus e os teus perdões.
Ao cabo somos nós mesmos
inventando as soluções.
A ESPUMA DAS COISAS
A grande ilusão do insustentável.
O lama e os não-desejos.
A imensidão de um cosmos de brinquedo.
O estrelejar do hoje versus
o princípio. Ou o
precipício.
Sossega, peito meu, és só a espuma
das coisas vãs gozadas uma a uma.
O OFÍCIO
No fim dos tempos,
vou estar numa casinha de palha,
uns livros, um lápis,
papel almaço, a alma pura
e uns rabiscos pra ninguém ler,
só
me confessar.
Ao deus dentro de mim, primeiramente.
E a quem não interessar possa.
ESTUDO 179
Quero fazer um poema reto.
Sem emoções — que essas nos embaçam.
Sem sutilezas semânticas ou glaxúrdias
Gramáticas.
Quero fazer
um poema simples, sem sentido.
(Que o essencial não tem sentido.)
Quero escrever como se uma árvore .
soubesse olhar as nuvens: um poema
que só por existir se explique e me explique.
8.
Poeta, a eternidade
é só o instante em que se pousa
o lápis.
ESTRADAS PLANAS
1.
A sombra da tarde imensa
— e certas vidas esconsas.
Os grandes subterfúgios
— onde, nas tardes, se escondem?
Eis que a tarde passa e esplende;
tons de escuro
Tingem a barra do horizonte.
Quem nos chama?
2.
A tarde seus olhos bons —
nos vela. Estradas planas
se perdem, nem tudo é longe:
às vezes é uma saudade
que nos encanta. Ser homem
é estar na tarde.
3.
Na vastidão das coisas findas,
o homem imprime seu sonhos de ficar.
E fica.
ANOTAÇÕES DO IMEMORIADO
Há uma rua e um erro,
e o mar sem nenhum regresso.
Edificamos no vento
é o que nos resta.
E esta flor amarela
no jarro.
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